As mulheres participam dos mitos do arquétipo do herói exatamente como os homens, porque como os homens, elas precisam desenvolver uma personalidade sólida.
Existe uma camada mais profunda das suas mentes que parece vir à superfície de seus sentimentos para as tornar mulheres e não uma imitação de homens.
Quando esse conteúdo começa a emergir na psique da mulher, a jovem moderna procura reprimi-lo, pois representa uma ameaça às suas prerrogativas de emancipação e igualdade ao mundo masculino.
O mundo masculino exerce uma fascinação de intelectualidade, poder e força, o qual consubstancia-se no ideal a ser atingido.
Esse conteúdo masculino acontece como idealizador no período da escola ou faculdade.
Mesmo quando após o casamento e a gravidez a mulher guarda ainda uma certa ilusão de liberdade, força e intelectualidade, é quando aparece um conflito de submissão ostensiva que força a mulher a redescobrir sua feminilidade sepultada na juventude.
Esse intolerável sentimento de descontentamento consigo mesma acaba gerando acessos de mau humor afastando o seu parceiro como uma repulsa ao envolvimento.
Na realidade a força da heroína que precisa se manifestar, ocorre de assalto, numa força de vontade heroica querendo resgatar sua feminilidade, que é o que a torna inteira e plena.
Para o homem o herói manifesta-se quando adentra à porta carregando a donzela em seus braços, cumprindo o ritual do casamento.
Para a mulher isso não acontece e depara-se com o mito da Bela e a Fera, quando o deus animal cria um ser em seu ventre.
No conto de fadas, os caros presentes recebidos pela Bela deixam de ter um significado, e a rosa branca torna-se um símbolo no seu interior, de sinceridade de sentimento.
A mulher exige da Fera um comportamento em que este se submeta à sua feminilidade, em que a Fera renuncie a sua parte animal para uma submissão – que é exatamente a parte feminina que a mulher está procurando.
Quando a Fera oferece a liberdade para a Bela e confessa que morreria caso ela não voltasse, a Bela em sua liberdade sonha que a Fera está morrendo, e esquecendo-se da feiura da Fera que agoniza e passa a tratá-la com carinho.
Os dois confessam seu amor e pedem reciprocamente que se esforcem em melhorar. É quando a Fera desaparece e surge o Príncipe Encantado.
O ato da heroína está consumado na submissão da mulher projetada na Fera.
Tanto a Fera como a Bela, ou o homem como a mulher, precisam acolher a polaridade de seus sentimentos: a mulher renuncia à sua inocência e o homem renuncia a sua fúria.
O mistério manifesta-se em nossas vidas, buscar desvendá-los não é uma obrigação, é uma necessidade, para que a vida fique mais simples.